Localizada a pouco mais de 100 quilômetros de distância de Tel Aviv, Beerseba (Be'er Sheva) é considerada uma das cidades mais antigas do Estado de Israel. Ainda que tenha sido fundada a mais de dois mil anos, a cidade de Beerseba foi destruída e reconstruída muitas vezes ao longo de sua vasta história, de forma que a sua identidade hoje pode ser definida por uma sobreposição de diversas camadas temporais. Uma das principais forças que veio a transformar a estrutura urbana da cidade de Beerseba foi o avassalador crescimento populacional da década de 1950 (logo após o estabelecimento do Estado de Israel em 1948). Naquele momento, o governo israelense decidiu por expandir e revitalizar a estrutura urbana da cidade, a qual passou de um pequeno vilarejo de pouco mais de 4.000 habitantes—em sua maioria militares—, para um dos maiores e mais importantes centros urbanos junto ao deserto de Negev. Desta forma, Beersheba, como muitas outras cidades do país, se transformou em um canteiro de obras a céu aberto, um lugar onde muitos jovens arquitetos modernistas puderam explorar a nova forma de se fazer arquitetura.
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Após a declaração de independência e o estabelecimento do Estado de Israel em 1948, o arquiteto Arieh Sharon foi nomeado Diretor do Conselho Nacional, encarregado de liderar a equipe que elaboraria o plano diretor para a nova cidade de Beerseba. Como um aluno da Bauhaus, inspirado pela arquitetura de Walter Gropius e com uma vasta experiência de trabalho com um de seus principais discípulos, Hannes Meyer, Arieh Sharon era um arquiteto de caráter racionalista. Buscando inspiração nas estruturas das novas cidades do Reino Unido, o plano diretor de Sharon buscava introduzir novos elementos urbanos para acolher os milhares de imigrantes judeus que voltavam ao país vindos dos quatro cantos do planeta. Acontece que, naquele momento, o país contava com apenas algumas grandes cidades e objetivo do novo governo era melhor distribuir os recém chegados ao longo do território nacional. Tal política fez com que o país crescesse rapidamente ao longo da década de 1950, tanto que entre 1948 e 1961, o número de habitantes triplicou. Foi assim que, entre 1948 e 1957, 28 novas cidades foram planejadas e construídas—entre as quais encontra-se a nossa menina dos olhos: a cidade de Beerseba.
Para solucionar o desafio de construir numerosos edifícios habitacionais que pudessem atender a crescente demanda por moradia no país, as autoridades locais decidiram incentivar o uso de novas tecnologias de construção, as quais permitiam construir edifícios de forma rápida, barata e adequada à escala das novas cidades. Assim, o concreto armado surgiu como uma das principais soluções técnicas e construtivas, sendo utilizada amplamente pela grande maioria dos arquitetos, uma solução que permitiu construir uma enorme quantidade de edifícios em um curto espaço de tempo, desde estruturas residenciais, administrativas, educativas, culturais e de entretenimento. Com isso, a arquitetura israelense da segunda metade do século XX adquiriu um perfil que muitos hoje se referem como “brutalista”, uma característica tectônica e material que se reflete em muitas das mais proeminentes estruturas arquitetônicas construídas ao longo da década de 1950 e 1960.
Ao longo dos últimos anos, o fotógrafo de arquitetura Stefano Perego passou a documentar algumas das obras que fazem parte desse legado arquitetônico brutalista em Beersheba. Nutridos pelo desafio de reconstruir um país e impulsionados pelo progresso tecnológico da época, os arquitetos que dedicaram parte importante de suas vidas na obra de construção da cidade de Berrrseba foram responsáveis por repensar a forma como seus cidadãos habitariam um território espinhoso como é o deserto de Néguev. A seguir, descubra alguns dos mais icônicos edifícios brutalistas de Beerseba pelas lentes do fotografo Stefano Perego:
Edifício residencial "Quarter Kilometre"
- Arquitetos: Avraham Yaski e Amnon Alexandroni
- Ano: 1958
Edifício residencial
- Arquitetos: Meir Cecik e Bitosh Comforti
- Ano: 1960
Edifício residencial “Drawer Tower”
- Arquitetos: Moshe Lupenfeld e Giora Gamerman
- Ano: 1962-1967
Cine Orot
- Arquiteto: Zeev Rechter
- Ano:1963
Monumento à Brigada Néguev
- Arquitetos: Dani Karavan
- Ano: 1963-1968
Facultade de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade Ben-Gurión del Néguev
- Arquitetos: Rafi Reifer, Amnon Niv e Natan Magen
- Ano: 1968-1971
Biblioteca Zalman Aranne da Universidade Ben-Gurión del Néguev
- Arquiteto: Michael Nadler e Shulamit Nadler
- Ano: 1968-1971
Residência Estudiantil
- Arquiteto: Ram Karmi
- Ano: 1974
Biblioteca Médica
- Arquitetos: Arieh Sharon e Eldar Sharon
- Ano: 1976
Sinagoga Central
- Arquiteto: Nahum Zolotov
- Ano: 1980
Museu da Memória Yad Lebanim
- Arquitetos: Yochanan Rechter e Mordechai Shoshani
- Ano: 1981
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Stefano Perego (1984) é um fotógrafo de arquitetura de Milão, Itália. Freqüentemente colabora com estúdios de arquitetura e artistas e é co-autor do livro SOVIET ASIA (Modern Soviet Architecture in Central Asia). Seu forte interesse no período arquitetônico da segunda metade do século XX o levou a concentrar seu trabalho especialmente no registro de obras do modernismo, brutalismo e pós-modernismo.